A ida para Volta Redonda foi bem chata. O que normalmente é parte agradável de uma etapa ou evento fora da cidade, virou um festival de lamentações. Arqui jurando todo mundo nos pneus e eu frustrado com uma quebra para lá de inusitada. Nunca vi aquilo. Mas Guará tinha que ficar para trás, e literamente ficava a cada metro percorrido na estrada.
Um almoço tranquilo, já que não ficamos para as premiações. Recarregar as baterias e encarar mais um desafio. O Primeiro Endurance de 4T do Kartódromo Internacional de Volta Redonda!
Duplas fortes inscritas e até piloto de Stock Car prometeu aparecer. Prometeu e "correu". Correu para bem longe de Volta Redonda. No Indoor ia comer poeira fácil.
E a parte ruim da história. O básico de eventos deste tipo. Ninguém lê a porra do regulamento e fazem as perguntas mais imbecís possíveis. Caralho, lê o regulamento e vai encher o saco do cara da carrocinha de pipoca. Que merda! A maioria da Pilotaiada estava cansada, ou de terem andado em VR mesmo, ou de estar vindo da etapa do KR em Guará. Não era diferente o meu caso. E como se não bastasse, alguns bate-bate de última hora resolveram se aventurar. Com isso mais atrasos. Aliás, desculpem a liberdade literária deste último parágrafo, mas só com palavrões para conseguir expressar corretamente alguns acontecimentos.
Sorteio dos karts realizado e ninguém sabia quais karts eram canhas, rolimãs, pés-de-pano ou nave Enterprise! Fui para a pista primeiro, já que conhecia o traçado e Arqui estava andando pela primeira vez. Precisávamos saber se o kart era bom e tínhamos que partir de um referêncial confiável. Não que eu seja o mais rápido do mundo, mas sem dúvida era muito constante. Voltei para o box e passei o kart para Arqui. Nosso kart era o 13 e se não era a nave enterprise, era considerado um bom kart. Tomava de motor do kart 14, equipe Craque do Dente, com Tubino e Matheus e andava muito próximo do kart, que não lembro o número, de Henning e Diogo "Wario" Motta! E se essas duas duplas eram fortes, o que falar de Luir e Gustavo Loureiro? Fabinho Konrad voando sem peso... Entre outros nomes fortes que estavam por lá: Nicolas Costa, Guiga e Gustavo Shwenck, Felipe Piatgorsky e Humberto Rubin, Carlos Nadaes e Alexandre Odo... e me desculpem se esqueci de alguém, eram muitos e realmente não vou lembrar de todos.
Daniel "Arqui" Barberini usa a maior parte do tempo do warm-up para pegar o traçado, e no final já está virando bem rápido. Kart bom, traçado memorizado por Arqui e a responsa de classificar fica comigo. Tinha mais tempo de pista em VR do que Barberini e não tínhamos diferença de peso, que valesse a pena uma estratégia diferenciada, como foi o caso do pole position Fabinho Konrad... sem lastro nenhum voou na pista, marcou sem maiores dificuldades a Pole. Seguido de Matheus que tbm sem lastro e em um kart canha do canha. Em terceiro largava a equipe de Diogo e Henning e em quarto estávamos nós, a Equipe: EU PENSO KART. Na frente de muita gente boa e de conjuntos muito leves.
Largada no estilo Le Mans, como é característico em Endurances. Larguei muito bem e beneficiado com uma pancada de Gabi na minha traseira, fui empulsionado para frente. Ultrapassei Diogo na largada, mas não fiz de propósito, fiz pq larguei melhor. Tínhamos combinado de andar juntos e ir para frente juntos. Não se embolar e não perder muito tempo em relação a Fabinho e Matheus, que iam sumir certamente.
Era questão de tempo para eles se distanciarem. E foram abrindo. Fabinho abria deMatheus, assim como Matheus abria para mim. Acabamos perdendo muito tempo, pq logo na terceira volta, Gabi, muito leve, resolve me atacar e tentar me ultrapassar. Só que o kart dela andava muito na reta, mas Gabi errava tudo no miolo e perdia muito tempo. Fiz sinal para a equipe dela, que pediram para ela usar a cabeça e me empurrar na reta, seria vantajoso para todos. Ela na minha referência no miolo e eu sendo empurrado na reta. Depois de várias tentativas de ultrapassagem e de vários X e devoluções de ultrapassagem na segunda perna do miolo, ela seguiu a sua equipe e me empurrou. Nao tenho noção de quanto tempo perdemos nestas tentativas que não levaram a nada, mas tenho certeza que fez falta no final.
Diogo com toda esta briga acabou chegando. Tirava muito pouco de volta a volta e perto da primeira troca de pilotos chegou. Gabi finalmente pegou a manha de fazer o miolo e aí ficou difícil de segurar. Novamente seguindo ordem da equipe, me ultrapassou e contornou todo o miolo certinho, aí não teve jeito. Acabou abrindo um pouco. Estava próximo da parada de box. Foi quando vejo Gabi errar o local da troca, e encaminhou o seu kart para o ponto de reabastecimento. Sua volta foi descartada e sua equipe ficou uma volta atrás, já que ela não fez o reabastecimento e acabou cortando caminho. Em seguida faço a troca com Arqui. Perfeita! Perdemos pouco tempo. Continuávamos na briga após o primeiro stint.
Poul assumia o kart líder da equipe IKWC, Tubino pegava o kart de Matheus e se mantinham em segundo. Com a equipe de Gabi se enrolando para troca, cairam para o meio do pelotão e já não preocupavam naquele instante. Diogo entregou o kart para Henning e nos mantemos em terceiro. Mas não deu nem tempo de chegar na arquibancada para assistir e orientar o stint de Daniel e já estávamos em segundo. Poul tem uma carcaça de 110Kg e contra a média de 85 da galera, tomava mais de dois segundos por volta. E logo sairam da briga, sem falar que depois fiquei sabando que se enrolaram na troca de kart. Tubino em primeiro, kart 14, equipe craque do dente e em segundo equipe EU PENSO KART, com Daniel Barberini, kart 13, na mesma volta já não tínhamos muitas equipes, mas quem vinha em terceiro era Rafael Henning, com a equipe KART GP. Aliás, nunca andei em um grupo tão forte, mas isso é papo para outro post.
Hora do reabasteciemnto, que na verdade não tinha uma janela específica. Ficava a critério de cada equipe o melhor momento para parada. Dos três primeiros quem vai para o pit logo de cara são os líderes. Estava dentro do box para ajudar e fiscalizar e percebi que a parada de Tubino foi longa. Uma eternidade, perderam mais de um minuto fácil. E nós assumimos a liderança. Barberini ficou na pista um pouco mais e quando atingimos o que considerávamos o dead line, chamei Arqui para o Pit. Mas dois kart estavam abastecendo e tive que correr para um local onde Barberini pudesse me ver, se ele entra naquele momento, como havia sinalizado, seria o fim.
Ele me ve e segue na pista. Tínhamos um cálculo de quanto tempo levaria para acabar a gasolina do tanque e ficar mais 3 voltas na pista, depois de ter chamado ele para o pit no limite, foi uma tortura. Pit livre, ninguém reabastecendo e Arqui entra. Tudo muito rápido e a equipe do Kartódromo trabalhando muito bem. Arqui sai do kart e desligamos. Sobe no cavalete. Abre o tanque e abastece, liga, entra no kart, empurra.... VAI, VAI, VAI...
Voltamos em segundo ainda, na frente do Craque do Dente, perto mas na frente. Enquanto isso Henning não para. Continua na pista e é líder com pelo menos uns 20seg de vantagem. Arqui coloca pouca vantagem em Tubino e eu sabia que seria quase impossível segurar Matheus. Enquanto todos pensavam em fazer duas paradas e não 3, Henning quer se candidatar a estrategista de F1 e fazer apenas uma. Mas o seu ritmo de prova apesar de toda vantagem começa a cair rapidamente e Barberini antes da segunda troca consegue a ultrapassagem na pista. Isso nos deixava em igualdade de condições, vide que todos os 3 primeiros fariam ainda mais uma parada de reabasteciemento.
Éramos líder novamente e depois de mais uma troca de pilotos sem perder tempo, voltamos com alguma vantagem. Eram aproximadamente mais 40 voltas, sendo que Matheus assume e vem babando. Matheus estava andando em um foguete e cerca de 10kg mais leve do que eu. Em uma volta de aproximadamente 1min, isso equivale a aproximadamente 1seg por volta. Nao seria difícil Matheus chegar e sumir na minha frente. Um pouco mais atrás coube a Diogo fazer a parada nos pits. Não me preocupei muito naquele momento com a equipe KART GP, nitidamente Henning tinha problemas e era provável que não fosse resolvido com combustível.
Matheus levou cerca de 10 voltas para chegar e ultrapassar, e ainda consegui andar no seu vácuo por cerca de 2 voltas, mas ele ainda tinha cerca de 28 voltas para abrir uma vantagem confortável. E ele fez. Abriu bastante, nada impossível de se tirar, vide que se Matheus anda 10Kg mais leve, Tubino andava 10Kg mais pesado e Arqui teria os mesmo 40 min para tirar a vantagem. Qdo coloco uma volta no amigo, doido e rápido piloto Luir Miranda, quarto colocado, vejo que as coisas estão bem tranquilas. Nossa briga era só com a equipe Craque do Dente.
Mais uma troca e Tubino e Matheus fazem dessa vez certinho. Eu e Arqui pela terceira vez fazemos sem erros também. A vantagem era grande, mas os dois fariam mais um reabastecimeto. Tudo indefinido. Tubino mantém a vantagem para Barberini, que tirava muito pouco. Bastava a Tubino controlar a distância. Quando chego na arquibancada para assistir ao último stint, recebo o seguinte recado: "Barberini disse que vai arriscar, não parar". Isso mudava tudo, vide que nossa parada que foi uma das mais rápidas até aquele momento, nós perdemos 26seg. Era o que precisávamos para ficar colados com a equipe líder.
Mas Barberini começa a sinalizar e pedir para ir ao reabastecimento. Pelo que entendi ele sentiu algum problema. Faltavam apenas poucos minutos e pensei. Se quando enchi o tanque perdi 26seg. Vou fazer apenas um splash and go e tentar não perder nada. Aviso aos mecânicos do que preciso. Chamo Arqui, ele entra, pula do kart, desligamos o motor. Abri o tanque... Quase seco! Os mecânicos trabalham rápido e quando acho que é suficiente peço para pararem. Puro instinto. Não tinha a menor noção de quanto de gasolina tinha entrado no tanque e quanto precisávamos para ir até o final. Arqui senta no kart, liga o motor, empurra e voltamos para a pista. Incrível. Não só fizemos uma parada perfeita, como não perdemos tempo, muito pelo contrário, Ganhamos!!! Cravamos a volta mais rápida da corrida. Explico: quem entrava para fazer a parada de reabastecimento, não contornava todo o miolo da pista. Como nossa parada foi muito rápida, a volta que levava cerca de 1min, foi feita por nós em 55seg.
A vantagem que era de 12seg caiu para 7... Barberini ao ver Tubino no visual começa a apertar. Faltavam cerca de 5 a 10 min. O tempo não era um aliado. A diferença diminui volta a volta. A chegada poderia ser daquelas emocionantes. Eu e Matheus estávamos juntos na arquibancada, cade um torcendo para o seu companheiro de equipe, mas munidos de muito fair play e amizade.
Bandeira branca para Tubino que trás na ponta dos dedos, enquanto Arqui mais do que nunca coloca a faca nos dentes. 4 segundos de vantagem, não vai dar... Tubino contorna a entrada da reta, já sai vibrando, avista a quadriculada nas mão de Queiroz e cruza para a felicidade de Matheus. Aplausos meus e da galera que prestigiou o evento. Barberini passa logo atrás e sem dúvida, muitos aplausos Parceiro!!! Show de bola!!! Parabéns a Equipe Caramujos, terceiro lugar com Carlos Nadeas (também Kart Gp) e Alexandre Odo.
Saio correndo em direção aos boxes para esperar a chegada dos pilotos. Lá já encontro Tubino fora do kart abraçando Matheus e comemorando muito. Vou cumprimentar os campeões, grande abraço nos também companheiros do KART GP. Por falar em KART GP, Henning e Diogo acabaram se enrolando na sua parada de box e perderam uma volta, terminaram em sétimo. Arqui também chega ao box e olha para mim e diz, "não deu". Como não deu, meu parceiro? Olha para trás e tem só 25 equipes querendo nosso lugar e só uma que não queria a nossa posição. Excelente. Primeiro torneio deste tipo que participamos e os amigos que começaram juntos nesse esporte, que é o patinho feio do automobilismo, chegam em segundo-lugar!!!
Rumo ao endurance da Granja, rumo as 500 milhas...
Até as pistas!!!